Quando o Amor Não Basta: O Ataque de um Chow Chow à Tutora e as Lições que Precisamos Aprender

Recentemente, um caso chocou tutores de cães em todo o país: uma mulher foi atacada e mordida no rosto por seu próprio cachorro, um chow chow com quem convivia há anos. O animal, segundo a própria família, era saudável, vivia dentro de casa e era muito apegado à tutora — mas também demonstrava um comportamento de ciúmes excessivo.

Após o ataque, a situação teve um desfecho trágico: o cão foi sacrificado. Uma decisão extrema que levanta uma questão delicada, mas necessária: até onde estamos preparados para lidar com os instintos naturais dos nossos cães, especialmente de raças com comportamento mais primitivo, como o chow chow?

O Chow Chow e seu comportamento “primitivo”

O chow chow é uma raça fascinante e cheia de personalidade, mas não é para qualquer tutor.
Sua aparência de “urso de pelúcia” muitas vezes engana: ele tem um temperamento reservado, independente e bastante territorial.

Costuma ser comparado a um gato por seu jeito calmo e autônomo, mas essa independência vem acompanhada de um comportamento mais primitivo — ou seja, mais próximo do cão ancestral, com menos tendência a obedecer por agradar.

Por isso, é fundamental entender que, por mais que o cão seja criado com carinho, instinto é instinto. E o chow chow, quando se sente invadido, ameaçado ou incomodado, pode reagir de forma rápida e intensa.

Sinais de alerta: ciúmes, posse e falta de socialização

O cão envolvido no ataque já apresentava sinais de ciúmes excessivo. Isso, por si só, já indica que ele não foi socializado adequadamente.

A socialização é o processo pelo qual o cão aprende, desde filhote, a lidar com pessoas, outros animais, sons e ambientes diferentes.
Um cão que não passa por esse processo tende a ser mais inseguro, possessivo e reativo.

Infelizmente, muitas pessoas acham que a socialização termina quando o cão “se acostuma” com a casa. Mas a verdade é que socializar é um processo contínuo, e quanto mais diversificado, melhor.

Todo cão precisa de rotina, estímulo e regras

Outro ponto que deve ser destacado é a importância da rotina e do gasto de energia física e mental.

Aqui em casa, por exemplo, temos a Queen — uma chow chow muito dócil.
Mas recentemente, durante uma semana de muita chuva, ela quase não saiu pra passear.
Nesse período, ela ficou mais irritada com a Lolla, nossa shih-tzu. Era claro: estava com energia acumulada.

Corrigimos o comportamento com limites firmes, mas assim que o tempo melhorou, levamos as duas para passear e tudo voltou ao normal.

Ou seja: mesmo cães calmos e equilibrados precisam de rotina, de previsibilidade e de atividades diárias.
Sem isso, eles podem desenvolver comportamentos ansiosos, destrutivos ou agressivos.

Carinho não substitui supervisão

Outro erro comum — e perigoso — é tratar o cão como um bebê humano.
Mesmo que seu cão seja dócil e afetuoso, não é recomendável colocar o rosto perto do focinho, abraçar o pescoço ou manter contato direto com os olhos.
Para os cães, esses gestos podem ser interpretados como ameaças, e eles reagem por instinto.

E isso vale para todas as raças.
Na internet, vemos vídeos de pessoas sendo atacadas por chihuahuas, shih-tzus, labradores, e todos acham engraçado. Mas quando é um chow chow, o peso da raça cai sobre ele.

A verdade é que todo cão pode morder. A diferença está em como lidamos com isso no dia a dia.

Um desfecho triste — e evitável

O que mais entristece nesse caso é que o cão, depois de anos de convivência, foi sacrificado após o ataque.
Ele pagou com a vida por um comportamento que poderia ter sido evitado com socialização, rotina e manejo adequado.

É um alerta para todos nós, tutores: amar um cão não é suficiente. É preciso compreendê-lo, respeitar sua natureza, e oferecer a ele uma vida equilibrada e segura.

A responsabilidade de criar um cão

Se você tem um chow chow, ou está pensando em ter um, aqui vão alguns pontos essenciais:

  • Socialize desde cedo e continue socializando ao longo da vida
  • Crie uma rotina com alimentação, passeios e descanso previsíveis
  • Gaste energia física e mental todos os dias
  • Evite estimular comportamentos possessivos ou territoriais
  • Supervisione qualquer interação com crianças ou pessoas desconhecidas
  • Não interprete o silêncio como sinal de “cão bonzinho” — chow chows são discretos, mas não passivos

Conclusão

O caso da Natani Santos nos mostra que, por trás de todo cão, existe um ser com emoções, instintos e necessidades reais.
Não é sobre “raça perigosa” — é sobre conhecimento, responsabilidade e preparo.

Vamos tirar disso uma lição para oferecer aos nossos cães uma vida mais justa, equilibrada e segura — pra eles e pra nós.